sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sessões de Cinema anos 60/70

Após terminar de ler o livro Easy Riders, Raging Bulls – Como a Geração Sexo, Drogas e Rock n’ Roll Salvou Hollywood, de Peter Biskind, a vontade de assistir os filmes da denominada Nova Hollywood me corroeu.
Faz mais ou menos uns 10 anos que soube da existência desse livro, através da revista Set. O livro conta sobre o processo de renovação que ocorreu em Hollywood, na virada dos anos 60 pros 70, onde jovens talentos emergiram, em um momento crucial para o cinema norte-americano, até o declínio da maioria, em virtude do estilo de vida sem limites, da arrogância, decretando o fim de uma era.
Assim, logo formatei uma lista, a fim de ver ou rever aqueles filmes, com uma ideia mais clara do contexto em que surgiram. Chamei meu pai para me acompanhar na missão. É uma oportunidade maravilhosa de termos uma atividade juntos. E se pra mim tem esse valor de apreciação artística e fílmica, para ele, há um componente ainda maior, pois ele era um pré-adolescente na época, então poderá relembrar a perspectiva que ele tinha e compará-la com sua visão de adulto.
Os três primeiros filmes que vimos foram Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, A Primeira Noite de um Homem e Sem Destino. Bonnie & Clyde é um marco, porque simboliza o jovem Warren Beatty tomando as rédeas de uma produção, dando liberdade para o seu diretor e criando um filme que não tinha medo de usar a violência. Antes desse filme, não se podia mostrar as consequencias de um tiro, era obrigatório o corte. Desafiando as convenções, e flertando com o cinema europeu, Arthur Penn apresenta à nova geração um estilo de filme contestador, resgata o gênero do cinema de gangster e abre espaço para um novo tipo de cinema.
No mesmo ano, Mike Nichols lançava A Primeira Noite de um Homem, que é um filme delicioso de assistir. Entre as razões para importância dessa obra, gosto de destacar o modo inédito como aborda o sexo, pois a revolução sexual já estava em marcha em 1967, só os conservadores donos dos estúdios que não viam. Mas também o filme inova na forma de trabalhar a câmera e lança a carreira de Simon and Garfunkel, que talvez jamais conhecêssemos se não fosse a tilha sonora, que é um dos exemplos perfeitos de músicas que casam perfeitamente com as cenas. Mas talvez a maior contribuição foi abrir as portas para os “feios talentosos”, como Dustin Hoffman. Se não fosse o sucesso do filme, talvez não haveria espaço para Pacino, De Niro e tantos outros.
E, por fim, vimos Sem Destino, que, sem dúvida, escancarou as portas da nova Hollywood. É incrível que tenham permitido Dennis Hopper e Peter Fonda tocar um projeto como esse, mas é fácil notar o motivo do filme ter feito tanto barulho. O filme tem um fiapo de história, mas consolida a imagem da contracultura e dialoga com os jovens, que à época se sentiam reprimidos, censurados e discriminados por serem diferentes. A cena do cemitério é perturbadora até hoje, denotando uma viagem alucinógena de forma intrigante. Talvez Sem Destino tenha amplificado o discurso de Bonnie & Clyde, em sua proposta contestadora e trazendo os diferentes como vítimas do sistema. Aliás, é fácil entender o sentimento que o filme tenha trazido de que os loucos teriam tomado o controle, o poder. E ainda tem Jack Nicholson, filosofando enquanto queima uma baseado. Só o fato de ter revelado um ator tão importante, já valeria. Bom que ainda podemos apreciar as paisagens das estradas dos Estados Unidos, ao som do bom e velho rock n’ roll.
Nossa jornada vai continuar, e sempre que puder, compartilharei essa experiência aqui.