sábado, 22 de março de 2008

Pensamentos Suicidas

Lost S04E08 - Meet Kevin Johnson.

(alerta de spoilers)



Ótimo episódio do Michael, em que pudemos saber como ele se tornou Kevin Johnson, o infiltrado do Ben no cargueiro. Uma missão em busca de redenção, em que Michael tenta de forma desesperada mudar o conceito que seu filho moldou a seu respeito, em um momento que sua vida está um caos e ele deseja a morte. E mais, a sua missão no cargueiro vai muito além de sabotar a viagem. Ele terá que matar todos os tripulantes.

Vamos às considerações:

  • Bem que podiam ter abordado a chegada de Michael e Walt em New York, para sabermos melhor o que aconteceu. Ainda permaneceu uma dúvida. Como Michael chegou no continente, entregou seu filho para a mãe, deprimiu-se e infiltrou-se no cargueiro atracado em Fidji, tudo isso em um espaço de poucas semanas, pois um mês depois de Michael sair da ilha, o cargueiro já estava em alto-mar, com Naomi pulando de pára-queda e tudo mais.
  • Quem diria que o Mr. Friendly jogava no outro time... Surpreendente essa nova faceta dele, que era um dos mais temidos entre os Outros;
  • Nas palavras de Tom, a ilha impede o suicídio de quem tenta. Michael não conseguiu, tanto como vimos no season finale da 3a. temporada, com Jack. Sinistro, hein...
  • E a bomba? Não estava esperando que ela estourasse, uma vez que o cargueiro estava inteirinho no futuro, mas sei lá, pensei que algum fenômeno eletromagnético aconteceria. Ao invés disso, tivemos uma brincadeirinha do Ben;
  • Agora uma nova versão sobre o falso Oceanic 815: obra de Charles Widmore, com provas bem precisas inclusive;
  • Duas coisas me incomodaram nesse episódio: 1) Sayid se precipitando, ao entregar Michael para o Capitão. Logo ele, sempre tão perspicaz. Como pode ele confiar tão prontamente no Cap. Gault? 2) Rosseau caindo na armadilha de Ben. Logo ela, que passou 16 anos sobrevivendo, se prevenindo contra a manipulação sagaz do Ben. Será que ficou tão vulnerável, ao encontrar a filha?
  • Curiosidade em nível máximo sobre o tal santuário onde os outros Outros se refugiaram...
  • A quarta temporada parece definir o arco principal: Benjamin Linus X Charles Widmore! Em quem confiar? Locke e Michael escolheram Ben. Sayid parece estar com o Capitão do cargueiro do Widmore. E que concessões os Oceanic Six fizeram para sair da ilha? O que esperar? São essas as perguntas que vão nos assombrar nesse um mês sem Lost!

sexta-feira, 21 de março de 2008

A Felicidade Só É Real Quando Compartilhada


Na Natureza Selvagem (Into the Wild, USA 2007) de Sean Penn.


Depois de se formar, todo jovem recebe a carga de decidir o que quer da vida e se tornar adulto definitivamente. Essa passagem assustadora da vida não parecia afetar o jovem Christopher McCandless, personagem real, interpretado por Emile Hirsch. Christopher era o típico bom moço. Boas notas, boa vida, bom filho. Mas vendo a vida matrimonial decadente de seus pais, a vida vazia do cotidiano urbano, toma uma decisão surpreendente: abandonar tudo e todos para viver no ostracismo, em contato com a natureza e os livros.
Ao longo da jornada de Alexander Supertramp (o novo nome adotado por ele), percebemos o quanto ele avança em busca do conhecimento de si mesmo, da reconciliação com a natureza e a fuga do modelo de vida ocidental. Porém, vemos que seus breves contatos com as pessoas que conhece pelo caminho, nunca são cultivados a fundo, pois Supertramp se nega a dar valor aos relacionamentos.
Com uma interpretação intensa, Emile Hirsch evolui em sua carreira como um ator de método e identificação total com seu papel. Tanto nas cenas em que segura o filme sozinho, quanto naquelas em que contracena com outros atores, sempre revelando um personagem que se afeiçoa por um estilo de vida, mas é incapaz de se apegar a outros seres humanos, por mais que haja respeito e carinho entre eles, mesmo que essas pessoas nutram sinceros sentimentos de afetos por ele. Porém, é na parte final do filme que Emile Hirsch se transforma e demonstra ser um ator muito mais completo que seus filmes anteriores poderiam sugerir, mérito que pode ser dividido com Sean Penn, que mostra-se como um ótimo diretor de atores.
Isso porque os coadjuvantes marcam o filme com performances igualmente competentes, começando pelos pais de Christopher, William Hurt e Marcia Gay Harden, na tela, que com pouco tempo na tela, exibem dor e sentimento de culpa. Jena Malone, cuidando mais do ofício de narradora. Catherine Keener, uma hippie que faz o estilo mãezona para "Alex" e um pouco ressentida com o fato de não ver os laços, quando ele sempre finda por afastar-se. Kristen Stewart, o único relacionamento com uma garota de Alex, também longe de ser desenvolvido e alimentado, acaba frustrado pela fuga do protagonista. E, por fim, Hal Holbrook, o velhinho solitário, que talvez é quem mais evidencia essa falha em Alex Supertramp. Em suas conversas sobre amizade, Deus e a natureza, os dois se afiam e compartilham a vida, mas é com uma tristeza singular nos olhos de Holbrook que percebemos na despedida, uma conversa inacabada, seu desejo de cultivar mais aquela amizade, enquanto mais uma vez Supertramp obstina-se em isolar-se para o seu mundinho de aventuras, solitude e natureza.
A vida de Christopher McCandless, ou Alex Supertramp é uma bela lição para todos nós, que somos sugados pela rotina e pelo compromisso de assumir coisas, ser mais um soldadinho de chumbo nessas esteira de produção que muitas vezes, nos impede de apreciar a vida. Porém, sua experiência também nos move a valorizar nossos relacionamentos interpessoais. Afinal, a vida deve ser compartilhada e não devemos nos olvidar de nossa natureza gregária, que somos membros uns dos outros e nessa vida, a interação com o próximo é o que torna significativa nossa passagem pela terra, quando marcamos positivamente a vida de outros iguais a nós. Christopher McCandless tentou fugir disso, mas mesmo em sua reclusão e isolamento, marcou a vida de todos que passaram por ele e hoje, graças a este filme brilhante, marca nossa vida também.

All We Need Is Love


Across the Universe (Idem, USA 2007) de Julie Taymor.

Como nunca ninguém tinha pensado nisso? Um musical com canções dos Beatles! É uma ótima idéia realmente. Os Beatles são a banda de maior impacto e influência do último século, fizeram músicas sobre amor, sobre guerra e paz, sobre experiências psicodélicas, ou seja, uma porção de temas que dão suporte a uma boa história de amor nos anos 60.
Os fãs de Beatles irão adorar o filme. Referências por toda parte, somos conectados àquele tempo de inocência e rebeldia. Podemos enxergar Jimmi Hendrixx, Janis Joplins e se deliciar com detalhes peculiares daquela época. Até os nomes dos personagens nos remetem às canções (Jude, Lucy, Prudence, Sadie), o que às vezes já nos antecipa que tais músicas serão ouvidas.
O visual é maravilhoso, um dos pontos altos do filme, juntamente com as interpretações das músicas, em especial I Want You (She's So Heavy), Come Together (com Joe Cocker), I Am the Walrus (com Bono Vox) e With a Little Help from My Friends, com algumas um tanto forçadas, como a conotação homossexual em I Wanna Hold Your Hand. Mas talvez a analogia mais feliz foi em Strawberry Fields Forever, sangue e morango, em meio a um insight criativo de um artista. Imagino Paul e Ringo assistindo cada minuto do filme, agonia e êxtase em cada frame, enquanto suas obras são dissecadas, adaptadas e apresentadas à nova geração.
O grande problema de Across the Universe talvez seja o outro lado dessa moeda. Se podemos considerar que trazer as consagradas músicas dos Beatles seja sua maior virtude, ao mesmo tempo é seu maior problema. Explico, em musicais, as canções devem servir à história e não o contrário, isto é, a história não deve seguir seu rumo em função das canções executadas, de forma que em alguns momentos, podemos enxergar Across the Universe como uma colagem de muitos clipes e não uma história fluida e orgânica, como acontece por exemplo em Tommy do The Who ou Pink Floyd - The Wall.
Porém, no final das contas, o filme é emocionante e satisfaz como um pequeno mergulho em um passado, que nem todos vivemos, mas mesmo assim nos traz uma sensação gostosa de coisas marcantes estavam acontecendo, enquanto a juventude buscava seus ideais de paz e amor.

Algumas curiosidades bacanas:
  • Houve realmente um show dos Beatles em um terraço, que foi reprimido por policiais, em Londres;
  • Prudence entrando pela janela é uma referência a uma música dos Beatles;
  • O ônibus pintado do Dr. Robert é uma referência ao álbum Magical Mystery Tour;
  • Jude e Lucy na cena embaixo d'água, fazem a pose famosa da foto de John Lennon e Yoko Ono.

sábado, 15 de março de 2008

A Redenção de Jin

Lost S04E07 - Ji Yeon
(alerta de spoilers para quem não assistiu ainda)

O último episódio de Lost foi centrado no casal Jin e Sun. Nunca fui muito fã das histórias do casal coreano, mas confesso que este último me pegou de jeito, foi muito emocionante e trouxe um truque narrativo que admito, me enganou direitinho.
Neste episódio tivemos três tramas. A primeira, na ilha, mostrou o conflito entre Sun e Juliet, pois a coreana não confia (com bons motivos) em Juliet e decide se mudar para a turma do Locke. Juliet, de maneira desprezível, apelou para obrigar Sun a ficar, contando a Jin sobre o caso que ela teve antes de chegar na ilha. A decepção marcada no olhar de Jin, a reflexão após a pesca com Bernard e por fim, o momento mais tocante da história do Mr. Kwon, quando ele demonstra seus sentimentos e afirma que seus erros do passado foram determinantes para o erro de Sun, mas que agora ele mudou para ser o homem que Sun sempre quis. O momento de perdão mútuo, um amor que cobre os pecados e a redenção de um homem. Grandes momentos que chegam ao clímax, quando ele dissipa as dúvidas sobre a paternidade de seu filho.
Enquanto isso, no cargueiro, Desmond e Sayid recebem um bilhete - "Não Confiem no Capitão" - testemunham a "loucura" de Regina, pulando nas águas para morrer e encontram, finalmente, o capitão, com quem travam uma conversa intrigante: Charles Widmore é o chefe (como Ben já havia dito), eles não conseguem retroceder o cargueiro porque o motor foi sabotado, a cena forjada dos destroços do Oceanic 815 e os corpos dos passageiros foram obra de Benjamin Linus. Uau! Afinal de contas, podemos confiar ou não? Por fim, eles conhecem Kevin Johnson, ou melhor, Michael Dawson, que como já era de se suspeitar, é o infiltrados do Ben.
No futuro, Sun é uma Oceanic Six e está em trabalho de parto. Já era de se esperar, afinal para ela sair da ilha era a única maneira de salvar a vida dela. Jin também é e está em uma loja comprando um panda para presentear a filha. Certo? Não, numa narrativa muito bem construída, confesso que caí na armadilha que foi montada. A grande sacada do episódio foi misturar os conceitos já conhecidos de flashback e flashforward, induzindo o espectador a "montar" a história errada. Sun realmente está no futuro, fora da ilha e dando a luz à filha, mas a trama de Jin é pré-ilha. Ele não está presente. Pelo contrário, Jin está morto, como vemos na última cena, quando Sun e Hurley visitam seu túmulo.

Algumas reflexões:
  • Meu vacilo em não perceber que se tratava de um flashback de Jin também se deu em razão da conversa de Jin e Bernard, durante a pescaria. Bernard fala para Jin que o motivo de ter pego um peixe foi o karma, se você faz coisas boas, elas voltam para você, se fizer coisas ruins, elas também voltarão (ecos de My Name Is Earl?). Pois bem, quando tudo começou a dar errado para Jin, depois de comprar o panda, pensei que o Jin do futuro havia se separado de Sun e o karma estava aprontando pra cima de Jin (não que eu creia nisso), mas acabei me dando conta do engano mais tarde.
  • Capitão Gault está falando a verdade? Podemos confiar nele? Afinal de contas, se Kevin "Michael" Johnson está do lado de Ben, então fica difícil. Por outro lado, Charles Widmore não é alguém que inspire muito confiança também.
  • Regina é mais uma afetada pela "doença". Como podemos determinar quem está propenso à "doença da viagem no tempo"e quem não está? Por que alguns membros parecem imunes? Será que o mesmo aconteceu com os amigos de Rosseau? E então por que não afetou ela também?
  • Como Michael virou aliado de Ben? Será que ele veio para ajudar os outros losties? Será que há um paralelo entre Michael e o Sayid do futuro?
  • A pergunta que não quer calar: Jin está morto? Bom, já vi em vários sites o still do túmulo de Jin e é verdade que a data da morte é exatamente a data do acidente do Oceanic 815. Portanto, fica a questão: ele morreu ou está vivo na ilha? Bom, pela reação de Sun e Hurley, creio que Jin está morto mesmo. Agora, em que circunstâncias isso aconteceu, é outro detalhe.
  • Quem é o último Oceanic Six? Aaron ainda estava em gestação, então conta? O corpo de Jin pode ter vindo junto com os seis, conta? Acho que não. Então, vamos esperar os próximos.

sábado, 8 de março de 2008

A Crueldade Humana


Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country for Old Men, USA 2007)

Uma mala cheia de dinheiro encontrada em uma cena de crime, provavelmente um tiroteio em uma negociação de drogas e Llewelyn Moss (Josh Brolin) entra na mira de um dos assassinos mais cruéis já vistos no cinema, Anton Chigurh (Javier Bardem).
O novo filme dos irmãos Coen é um western moderno, com uma violência lamentavelmente crua e real, que nos conduz ao desespero de enxergar a vilania humana, que nos acompanha diariamente em páginas de jornais.
A ganância de Llewelyn é a força motriz da história, à medida que tudo ao seu redor começa a entrar em xeque, culminando em arriscar a vida de sua esposa, sogra e principalmente, a sua própria. Percebemos que Moss não é uma má pessoa, mas pelo fato de encarar a mala de dinheiro como sua última tábua de salvação, ou a galinha dos ovos de ouro, vemos que ele não desistirá fácil e levará seu plano até as últimas conseqüências.
O problema é que o dinheiro interessa um certo Anton Chigurh, um assassino frio, cruel, amoral e completamente insano. Javier Bardem foi uma unanimidade na temporada de premiações e em poucos segundos em tela já percebemos que o personagem que criou nasce clássico, entrando no rol de vilões memoráveis do cinema, ao lado de Hannibal Lecter, Norman Bates, Keyser Söze e outros. Dá arrepios a forma como ele anda, como ele olha para as pessoas e quando ele fala, você deseja que ele nunca cruze seu caminho.
Seguindo os passos dos dois antagonistas, temos Tommy Lee Jones como o policial Ed Tom Bell, que nos dá sempre a impressão de estar cansado desse ofício, desiludido por saber que o mal se alastra e não há esperanças de um dia ter fim. Mas Ed sabe que Llewelyn Moss é um bom sujeito, apenas o homem errado na hora errada, por isso parece disposto a defender o cidadão. Porém, a cada cenário da guerra travada entre os dois, o policial vai caindo o semblante e reforçando sua desmotivação em perseguir o bem.
Filmado com maestria, Onde os Fracos Não Tem Vez não é um filme fácil de digerir e não será o tipo de filme que arrebata as multidões nas salas de cinema, mas é um filme forte, que gera impacto ao mostrar uma violência, que não é cinematográfica apenas, mas encarna o mal que nos cerca e os absurdos que nos chocam todos os dias, ou como é triste constatar, já nos entorpeceram e brutalizaram nossos sentidos, de forma que já não esboçamos mais o repúdio que deveríamos.
Por outro lado, é um filme que deixa o final aberto, não entrega mensagens fáceis e não cumpre qualquer tipo de redenção para os personagens, o que pode aborrecer a muitos, Mas é justamente aí que os irmãos Coen atingem a perfeição, pois com um final feliz ou arredondado, o filme não causaria o soco no estômago que precisamos receber quando vemos um enredo como esse.

Cenas e falas:
  • Anton Chigurh manda o dono do posto escolher cara e coroa na moeda, o que certamente pode significar vida ou morte, quando proposto por um animal como Chigurh. "Eu preciso saber o que está em jogo" - "Tudo", responde Chigurh.
  • O reflexo de Anton Chigurh na televisão de Moss, depois é repetido com Ed Tom Bell, mostrando inteligentemente as pegadas sendo seguidas.
  • O confronto entre Chigurh e a esposa de Moss, que tenta apelar para o mínimo de humanidade, que sinceramente duvidamos que Chigurh tenha.
  • Outra rima visual: Moss compra a camisa de um traseunte e depois Chigurh faz o mesmo com a criança.
  • Llewelyn Moss - Se eu não voltar, diga para minha mãe que eu a amo.
  • Carla Moss - Sua mãe está morta!
  • Llewelyn - Então deixa que eu mesmo digo.
  • Carson Wells (Woody Harrelson) - Me ligue quando não agüentar mais. Eu até deixo você ficar com um pouco do dinheiro.
  • Llewelyn Moss - Se eu estivesse a fim de um acordo, por que eu não iria eu mesmo fazer um com o Chigurh?
  • Wells - Não, você não entende. Você não pode fazer um acordo com ele. Mesmo que você desse o dinheiro pra ele, ainda assim ele o mataria. Ele é um homem peculiar. Você até poderia dizer que ele tem princípios, mas princípios que transcendem dinheiro e drogas. Ele não é como você. Nào é como eu.
  • Moss - Ele não fala tanto quanto você. Eu dou pontos por isso.
  • Anton Chigurh - E você sabe o que vai acontecer agora. Tem que admitir a situação. Seria mais digno para você.
  • Carson Wells - Vai pro inferno.
  • Chigurh - Deixa eu te perguntar uma coisa. Se a regra que você seguiu, te levou até aqui, de que adiantou essa regra?
  • Wells - Você tem idéia de como você é louco?
  • Chigurh - Você se refere à natureza dessa conversa?
  • Wells - Não, eu me refiro à natureza da sua pessoa.
  • Ed Tom Bell - Na semana passada encontraram esse casal na Califórnia. Eles alugaram um quarto de uns idosos. Mataram e enterraram no quintal. Tiraram o dinheiro deles da seguridade social. Bem, primeiro torturaram eles, não sei porque. Talvez a tevelisão estivesse quebrada.
  • Eu me tornei xerife nesse condado quando fiz 25 anos. Difícil acreditar. Meu avô foi xerife, meu pai também. Eu e meu pai chegamos a ser xerifes ao mesmo tempo. Acho que ele tinha orgulho disso. Eu sei que eu tinha. Alguns xerifes antigos nunca andavam armados. Muita gente acha difícil de acreditar. Eu sempre gostei de ouvir sobre os velhos tempos.
    Você nunca consegue evitar fazer comparações entre seu tempo e o passado. Um tempo atrás, houve um garoto que foi morto na cadeira elétrica. Eu prendi e testemunhei. Ele matou uma garota de 14 anos. Me disseram que foi crime passional, mas ele mesmo me disse que não havia paixão nenhuma. Ele me disse que planejava matá-la desde sempre. Disse que se o soltassem, faria de novo. Disse que sabia que iria para o inferno. Eu não sei o que fazer disso. Simplesmente não sei. O crime do jeito que voce vê agora, é até difícil de medir. Não é que eu tenha medo. Eu sempre soube que você tem que estar querendo morrer para ao menos fazer esse serviço. Mas, eu não quero encontrar algo que não entendo. Um homem precisa colocar sua alma em risco. Ele deve dizer: "Ok. Eu farei parte desse mundo!"
  • Ed Tom Bell - E então eu acordei.

A Outra

O sexto episódio da quarta temporada de Lost foi centrado em Juliet, com o nome de The Other Woman. A história girou do passado de Juliet em flashbacks, enquanto no presente Jack e Juliet tentavam alcançar Faraday e Charlotte que saíram furtivamente em direção a uma nova escotilha chamada The Tempest e Ben faz mais de seus jogos mentais com Locke para o convencer a deixá-lo livre.
Este episódio pode até empalidecer diante do último, The Constant, pois nada pode ser comparado com um episódio tão bom, com reviravoltas no tempo e revelações empolgantes. Porém, convém pensar moderamente sobre os fatos de The Other Woman. Eu lembrava que Juliet e Goodwin tinham um affair, mas sinceramente não imaginava que ela era a "outra" da relação. Na verdade, nunca me importei muito com esse aspecto da história e todo o desenvolvimento do flashback de Juliet seguiu para revelar uma única coisa: Ben acha que Juliet é dele. E foi o único momento marcante nesse flashback, pois a maneira que Ben afirmou isso, chegou a dar medo de tanta obstinação no seu olhar. Enquanto isso, a história de Faraday e Charlotte na nova escotilha foi importante apenas de uma forma pragmática para termos conhecimento que havia esse lugar que fornece energia para toda a ilha e que um gás poderia ser liberado para exterminar toda a população do local. Entretanto, deixaram uma pulguinha na nossa orelha ao vermos que mesmo cativo, Ben ainda consegue obter informações e manipular quem ele quer.
Na verdade, os melhores momentos do episódio foram as cenas de Ben e Locke. Benjamin Linus sabe como mexer com o Locke e questionando a liderança dele, conseguiu realmente prender sua atenção. Aliás, ganhou a nossa atenção também revelando o que nós já suspeitávamos: Charles Widmore está por trás do cargueiro e fará tudo o ques estiver ao seu alcance para desvendar o mistério por trás da ilha. E Ben fará tudo, tudo mesmo para proteger a sua amada ilha.

Alguns pontos e reflexões:
  • Juliet gosta de ser a "outra". É exatamente esse papel que ela exerce entre Jack e Kate. Aliás, não consigo engolir Jack com Juliet. Esse relacionamento soa falso, como se Jack quisesse só causar ciuminho.
  • Não seria mais fácil se Faraday e Charlotte explicasse para Jack o que eles queriam ao invés de simplesmente fugir. Poderiam inclusive ganhar a confiança do doutor se fossem mais transparentes.
  • Juliet diz para Jack: "Não queira estar perto de mim se Ben quiser fazer guerra por minha causa". Pois aí fica a questão: O que é mais perigoso? Ben protegendo Juliet ou a ilha?
  • Como é que Ben obtém a informação sobre o destino de Faraday e Charlotte e ainda manda uma mensageira ao encontro de Juliet? Esses suspiros da ilha parecem que estão bem nos ouvidos dele.
  • Locke oferece coelho para Ben comer e ele pergunta se havia um número nele. Muito boa essa! (lembre do episódio com Sawyer e o coelho).
  • Muito legal a cena final. Hurley derrotando Sawyer em mais um jogo e os dois ficando de queixo caído ao ver Ben caminhando livremente. "Vejo vocês no jantar".

sexta-feira, 7 de março de 2008

E Tudo Começou com uma Cadeira

Um dos filmes mais comentados nessa estação de premiações, foi Juno (Idem, USA 2007), do diretor Jason Reitman. O filme conta a história de uma adolescente, cujo nome dá título ao filme, que engravida de seu colega de classe super nerd. Sem condições psicológicas para criar a criança e depois de cogitar o aborto por um tempo, Juno responde um anúncio de um jovem casal que não pode ter filhos, decidindo entregar o bebê tão logo ele nasça.
O charme do filme reside em muito nos atores escolhidos. Ellen Page, embora já tenha 21 anos, encarna muito bem a personagem-título. Juno pode ser descolada, conhecer e gostar de músicas mais velhas que ela e até mesmo ser capaz de tiradas geniais, mas fica claro que não passa de uma adolescente confusa, imatura e até mesmo assustada com o fato de o mundo dos adultos ter invadido seu ambiente peculiar, seu habitát natural. O sucesso do filme depende totalmente da composição de Juno, e Ellen não decepciona, já na primeira parte do filme já nos identificamos com ela e conforme a história segue, desejamos tê-la como amiga e nos preocupamos com sua jornada.
Michael Cera faz o jovem nerd que "contribuiu" com a gravidez. Já na primeira cena, com seu uniforme de corrida, percebemos tudo. Ele é um daqueles colegas de classe inteligentes, mas inseguros, tímidos e atrapalhados com o sexo oposto. Cera é habilidoso em demonstrar um garoto normal, que se vê perdido diante de um problema que Juno até mesmo o impede de lidar, e acaba perdendo a amizade da pessoa que o compreendia.
Jennifer Garner e Jason Bateman são o casal adotante. A dinâmica entre eles e Juno é excelente. Garner é a estéril que sonha loucamente em ser mãe, enquanto Bateman é o ex-músico que deixou seus sonhos para trás para acompanhar o de sua esposa. A chegada de Juno, ao mesmo tempo que satisfaz os sonhos da esposa, arremessa o marido em um turbilhão de pensamentos, sentimentos e sensações que estavam adormecidos.
Finalmente, outro grande fator no filme Juno é o seu roteiro, agora vencedor do Oscar. Diablo Cody acerta em diálogos deliciosos de ouvir e alguns personagens cativantes, embora claramente outros sejam lamentavelmente simplórios.
O ponto alto acaba sendo o pai de Juno, interpretado po J. K. Simmons, mais conhecido como o chefe de Peter Parker. Apesar de passar o filme todo um tanto indiferente com a experiência mais importante da vida de sua filha, quando finalmente é abordado por ela, mostra uma sabedoria respeitável, colocando paz no coração de Juno e demonstrando a simplicidade da beleza da vida, possibilitando que ela assimile o que aquela situação pode lhe ensinar e dando o seu primeiro passo para a maturidade.

Algumas falas memoráveis do filme:
  • Jennifer Garner: "Seus pais devem estar preocupados sem saber onde você está".
  • Ellen Page: "Que nada! Digo, eu já estou grávida. Então que outras enrascadas eu poderia me meter?"
  • Jennifer Garner: "E então? Como vai ser?"
  • Ellen Page: "Como assim? Eu vou ter o bebê e entrego para você..."
  • Advogada: "Ela quer negociar uma adoção aberta com você"
  • Ellen Page: Não, não! Espere... Não podemos fazer isso, tipo, velha escola. Tipo, eu coloco o menino Moisés na cestinha e mando pra você."
  • Jason Bateman: "Tecnicamente estaríamos kicking it Old Testament" (só faz sentido em inglês)
  • Ellen Page: "Eu acho que... estou apaixonada por você"
  • Michael Cera: "Como assim? Como amigos?
  • Ellen Page: "Não, de verdade. Porque você é, tipo, a pessoa mais legal que eu conheço e nem precisa se esforçar"
  • Michael Cera: "Na verdade, eu me esforço bastante"

sábado, 1 de março de 2008

Lost S04E05 - The Constant

Um dos melhores episódios da história de Lost. Tão excepcional quanto o último episódio centrado em Desmond, Flash Before Your Eyes, na Terceira Temporada.
Este episódio mostrou que a diferença de tempo na ilha não é significativa. Porém, a exposição à radiação e à descarga eletromagnética pode levar a saltos no tempo. Mas não é uma viagem no tempo, como estamos acostumados a ver em outras histórias. É como se apenas a consciência da pessoa viajasse no tempo, conforme explica o Dr. Faraday. No final das contas, Desmond precisava de uma constante, isto é, algo que fosse relevante para ele tanto no passado quanto no presente. Evidente que a constante de Desmond é Penny Widmore e o telefonema para ela foi uma cena muito emocionante. Foi episódio que me empolgou bastante, quase não consegui dormir pensando no que vem por aí. Tenho que repetir a frase já dita por Pablo Vilaça e Carlos Alexandre Monteiro: "Tenho orgulho de ser fã de Lost!"

Alguns pontos e reflexões:
  • Finalmente Jeremy Davies bilhou no seriado. Sempre achei ele perfeito para interpretar esquisitões, como nos filmes O Hotel de Um Milhão de Dólares, Helter Skelter e O Sobrevivente;
  • Daniel Faraday deve ter tido experiências de viagens no tempo. Por isso, ele fazia aquele exercício com as cartas junto com Charlotte, no último episódio. Talvez por isso o Faraday do futuro não se lembrou de já ter conhecido Desmond, enquanto Penny lembrou da conversa que teve no passado, ou seja, a ilha pode ter afetado a memória de Faraday. Além disso, ele tem o diário para não esquecer o passado, principalmente o que lemos por último: " Desmond é minha constante";
  • Minkowski diz: "Vocês devem ter um amigo no barco". Frank Lapidus? Ou será o informante de Ben?
  • Charles Widmore comprando o diário do Black Rock? Caramba! O que será que tem nesse diário? Por que Widmore se interessa nele? Será que Widmore está por trás do cargueiro? E o que sempre me intrigou: Charles Widmore tem alguma relação com a Dharma Initiative? Seria ele contra ou a favor?
  • Eu já havia lido no Lostpedia que o capitão do Black Rock era um antepassado de Alvar Hanso, mas esse nome Tovar Hanso é novo;
  • Estranha a tempestade que o helicóptero enfrenta para chegar no cargueiro. Seria a passagem da ilha para outra dimensão?
  • Muitos detalhes curiosos podem ser lidos no blog Dude! We Are Lost. O que mais gostei foi a respeito da coordenada 305 para sair da ilha, o que coincide com o versículo João 3:05 inscrito no cajado de Mr. Eko;
  • Muitas referências sobre os números por todo o episódio;
  • Uma coisa que pensei em episódios anteriores. Charlotte Staple Lewis é uma referência ao escritor C. S. Lewis, autor das Crônicas de Narnia. Como em Lost nenhuma referência é gratuita, será que podemos pensar em passagens para outro mundo, como o guarda-roupa que dava passagem para Narnia, em O Leão, a Feiticeira e o Guard-roupa?;
  • Teoria da terra oca. Eu achei fantástico essa teoria que li no blog Lost in Lost, do Carlos Alexandre Monteiro.