segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A Verdade Nua e Crua


Poucas coisas causam um ódio tão contundente e universal quanto à violência contra crianças, seja física, sexual, moral ou intelectual, contra a vida, a inocência ou liberdade. A sociedade toda repele abusos contra elas, independente da cultura, vez que a condição de indefesas e ingênuas as tornam alvos fáceis e fragilizadas.
O filme Medo da Verdade (Gone Baby Gone, USA 2007) é a estréia de Ben Affleck na direção e trata desse assunto, quando uma criança torna-se desaparecida, seus tios contratam uma dupla de investigadores particulares (Casey Affleck e Michelle Monaghan) para trabalharem em paralelo com a polícia, liderada pelo Cap. Jack Doyle (Morgan Freeman) e o detetive Remy Bressant (Ed Harris). Embora, o investigador Patrick Kenzie (Affleck) não seja acostumado a pegar casos como este, começa a obstinar-se a solucionar esse caso, ao perceber que a mãe da garota (Amy Ryan) é viciada e envolvida com sujeitos perigosos do tráfico. Porém, quanto mais Patrick aproxima-se da verdade real, mais a sujeira começa a feder , daí o título brasileiro, pois o protagonista vê o lado podre desse história, a verdade nua e crua.
Finalmente, a trama conduz a um dilema ético que provavelmente reperticurá no inconsciente do espectador. A pergunta que Patrick se faz é exatamente a pergunta que ressoa nos nossos ouvidos ao final do filme. Mas não posso dizer nada além disso para não estragar o filme.
Casey Affleck leva muito bem o seu papel, o que demonstra que sua escalação não tem tanto a ver com o fato de ser irmão do diretor, mas ao seu talento e sitonia com a história. O elenco de apoio é de peso, Morgan Freeman e Ed Harris são atores confiáveis, que agregam grande valor aos seus personagens, com toda a ambigüidade necessária para vivê-los. Tem que ser competente para expressar esses traços de personalidade, sem se perder em incoerências. Amy Ryan (indicada ao Oscar) é também importantíssima no filme, pois seu papel deve transmitir esse caráter de dubiedade ainda maior. Ela é mãe da criança, mas também é uma viciada irresponsável. Felizmente, Ryan é uma grata surpresa e sua interpretação é eficaz em criar sentimentos conflitantes na nossa cabeça.
Por fim, Ben Affleck surpreende a todos com uma direção segura. A história, baseada em livro do mesmo autor de Sobre Meninos e Lobos, reflete a mesma insatisfação, desespero e pessimismo em relação a este mundo cruel, violento e sem esperança. Os dilemas éticos impressos em decisões difíceis dos personagens também são semelhantes ao filme de Clint Eastwood.
Com um tom um tanto tristonho, as imagens do filme saltam do celulóide e nos tocam, ao percebermos que diariamente situações análogas nos chocam (ou não mais). Aqui vê-se o quanto um filme pode ser relevante. Uma história fictícia que transpira realidade, nos faz perguntas difíceis de responder e nos deixa pensativos sobre o quanto estamos longe de recuperarmos a dignidade de sermos humanos.

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