sexta-feira, 21 de março de 2008

A Felicidade Só É Real Quando Compartilhada


Na Natureza Selvagem (Into the Wild, USA 2007) de Sean Penn.


Depois de se formar, todo jovem recebe a carga de decidir o que quer da vida e se tornar adulto definitivamente. Essa passagem assustadora da vida não parecia afetar o jovem Christopher McCandless, personagem real, interpretado por Emile Hirsch. Christopher era o típico bom moço. Boas notas, boa vida, bom filho. Mas vendo a vida matrimonial decadente de seus pais, a vida vazia do cotidiano urbano, toma uma decisão surpreendente: abandonar tudo e todos para viver no ostracismo, em contato com a natureza e os livros.
Ao longo da jornada de Alexander Supertramp (o novo nome adotado por ele), percebemos o quanto ele avança em busca do conhecimento de si mesmo, da reconciliação com a natureza e a fuga do modelo de vida ocidental. Porém, vemos que seus breves contatos com as pessoas que conhece pelo caminho, nunca são cultivados a fundo, pois Supertramp se nega a dar valor aos relacionamentos.
Com uma interpretação intensa, Emile Hirsch evolui em sua carreira como um ator de método e identificação total com seu papel. Tanto nas cenas em que segura o filme sozinho, quanto naquelas em que contracena com outros atores, sempre revelando um personagem que se afeiçoa por um estilo de vida, mas é incapaz de se apegar a outros seres humanos, por mais que haja respeito e carinho entre eles, mesmo que essas pessoas nutram sinceros sentimentos de afetos por ele. Porém, é na parte final do filme que Emile Hirsch se transforma e demonstra ser um ator muito mais completo que seus filmes anteriores poderiam sugerir, mérito que pode ser dividido com Sean Penn, que mostra-se como um ótimo diretor de atores.
Isso porque os coadjuvantes marcam o filme com performances igualmente competentes, começando pelos pais de Christopher, William Hurt e Marcia Gay Harden, na tela, que com pouco tempo na tela, exibem dor e sentimento de culpa. Jena Malone, cuidando mais do ofício de narradora. Catherine Keener, uma hippie que faz o estilo mãezona para "Alex" e um pouco ressentida com o fato de não ver os laços, quando ele sempre finda por afastar-se. Kristen Stewart, o único relacionamento com uma garota de Alex, também longe de ser desenvolvido e alimentado, acaba frustrado pela fuga do protagonista. E, por fim, Hal Holbrook, o velhinho solitário, que talvez é quem mais evidencia essa falha em Alex Supertramp. Em suas conversas sobre amizade, Deus e a natureza, os dois se afiam e compartilham a vida, mas é com uma tristeza singular nos olhos de Holbrook que percebemos na despedida, uma conversa inacabada, seu desejo de cultivar mais aquela amizade, enquanto mais uma vez Supertramp obstina-se em isolar-se para o seu mundinho de aventuras, solitude e natureza.
A vida de Christopher McCandless, ou Alex Supertramp é uma bela lição para todos nós, que somos sugados pela rotina e pelo compromisso de assumir coisas, ser mais um soldadinho de chumbo nessas esteira de produção que muitas vezes, nos impede de apreciar a vida. Porém, sua experiência também nos move a valorizar nossos relacionamentos interpessoais. Afinal, a vida deve ser compartilhada e não devemos nos olvidar de nossa natureza gregária, que somos membros uns dos outros e nessa vida, a interação com o próximo é o que torna significativa nossa passagem pela terra, quando marcamos positivamente a vida de outros iguais a nós. Christopher McCandless tentou fugir disso, mas mesmo em sua reclusão e isolamento, marcou a vida de todos que passaram por ele e hoje, graças a este filme brilhante, marca nossa vida também.

14 comentários:

Unknown disse...

Desculpe discordar um pouco... Eu nao vejo que Supertramp nao se envolvia nas relações que teve em sua "perigrinaçao" mas acredito. Que ele se segurou ao máximo de ter relações muito fortes para poder alcançar os seus objetivos. E foi fiel a amizade, mas ele acreditava que precisava se conhecer para viver mais intensamente.
Pq se ele mantivesse relacoes fortes, como é que mantinha algo tao forte pela irma???
E sinto que a frase final "A felicidade só é real quando compartilhada" é por ele perceber que as coisas que ele tinha alcançado na solidao ele nao pode compartilhar com ninguem.
Bem essa foi a minha interpretacao.

Cláudio N. disse...

Cisio, você falou muito e não falou nada.

Belo texto Micael. Esse é um dos meus filmes favoritos, junto com Camisa de Força (The Jacket).

Anônimo disse...

Não é pra discordar ou concordar. A vida é de cada um e se a dele fez sentido pra ele assim, maravilha. Encontrar sentido na própria vida para poder se apropriar do que faz é absolutamente inspirador. Se para você não fizer sentido, que bom: inspire-se nesse daí e busque o seu próprio sentido! Mas não vale criticar só porque não é o que você escolheria. Não faz sentido zombar das conquistas desse garoto, afinal, quem somos nós para zombar a vida de alguém? Somos somente mais um. E é tudo uma questão de ponto de vista. As pessoas querem sempre se meter demais na vida das outras e não tentam compreendê-las. Observe que este tipo de relação se expande para um âmbito muito maior: é de caráter social. Prestemos atenção!

Marcela disse...

Há algo que transcede essa vida e cada um tem um porque de estar aqui... um programa ou um compromisso. O que é necessário é que cada olhe para si e descubra o que esta a espera de ser feito!!! Eu ainda não descobri totalmente... mas espero antes do meu desencarne entender porque não descobrir um dia que tive uma vida vazia e sem fundamento.... anseio mais, muito mais!!!

Anônimo disse...

Realmente, cada um tem um ponto de vista. Pra mim esse filme se resume na famosa frase de Gandhi: 'Não existe UM caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho'. Tudo o que ele viveu antes de encontrar o 'ônibus mágico' foi muito mais intenso que o objetivo. E para confirmar a frase final do filme, é impossível ser feliz sózinho...

Luiz disse...

Realmente este é um daqueles filme que mechem bem lá no fundo e deixa nosso coraçao inquieto. Pode parecer engraçado, mas no mesmo dia que assisti ao filme, vi uma entrevista do Marcelo d2(O que uma coisa tem a ver com a outra né?) Pois bem, na entrevista perguntavam a ele se ele ja tinha encontrado a "batida perfeita" e ele responde que o que realmente importa não é encontrar a batida perfeira e sim a procura. Perguntei isso pra mim hoje e talvez seja útil pra voces tambem: "Estou procurando a felicidade ? Ou estou esperando que chegue até mim?"

PS: Primeira vez que visito o blog e gostei muito, parabéns.

Hugo Fonseca disse...

Me tocou bastante esse filme, pois mostra um lado que muitas vezes não pensamos e quando alguma vez analisamos não compreendemos, portanto creio eu, que esse filme mostrou um lado de um ser humano em busca de seu entendimento pessoal sobre a vida, sei que não sou o dono da verdade, muito longe disso, mas creio que ele não saiu em busca da felicidade e sim traçou um objetivo, pois não queria ser nem tampouco fazer o que a sociedade já pré planeja em nossas vidas, que é: obedecer pai e mãe, se formar, ter um emprego, formar uma família e etc... pois o que planejava era ter uma conformidade com a natureza até porque em seu pensamento a natureza poderia lhe propiciar momentos em que as pessoas principalmente sua família não deram, e é aí no desenrolar de sua aventura que ele ver que as pessoas são essencial para o seu objetivo que ele pensava que era o Alasca mas no seu interior o seu objetivo maior era a procura de um sentimento único, A FELICIDADE! Que através do momento mais difícil de sua aventura não pode compartilhar com ninguém, morrendo e guardando consigo mesmo.

Hugo Fonseca disse...

Gostei muito de seu comentário Luiz! Parabéns!

Hugo Fonseca disse...

Impossível ter felicidade sozinho, nunca teríamos a quem amar, não poderíamos ser amado e nem tampouco ter alguém ao seu lado para que juntamente com você possa compartilhar todo um sentimento de alegria, já que a alegria é o sinônimo que mais se aproxima da FELICIDADE.

Martim disse...

A propósito do tema acho que vão gostar disto: http://soundcloud.com/m-ms/into-the-wild

Anônimo disse...

Assim qdo vc é Playboy fica tudo mais facil, vejo que ele era rico e quis jogar pro ar sua vida, agora um pobre fazendo o que ele fez concerteza seria mendigo, bem que o personagem é mo inteligente, um pobre não passaria de um chorume a mais na vida

rodrigo dias disse...

budista.. o príncipe Siddhattha, cujo o significado do nome quer dizer "aquele que atinge seus objetivos" que ainda jovem partiu em sua busca religiosa, motivada por uma preocupação existencial, deixando para trás todos seus privilégios de monarca.
Enfim,esse filme é incrível, e é um ensinamento, basta saber interpreta-lo.

Rodrigo Dias disse...

budista.. o príncipe Siddhattha, cujo o significado do nome quer dizer "aquele que atinge seus objetivos" que ainda jovem partiu em sua busca religiosa, motivada por uma preocupação existencial, deixando para trás todos seus privilégios de monarca.
Enfim,esse filme é incrível, e é um ensinamento, basta saber interpreta-lo.

Praxedes, C. disse...

cREIO QUE ELE SE REFERIA PRINCIPALMENTE A FAMÍLIA, A QUAL ELE NÃO CONVIVIA TÃO BEM E NÃO ACEITAVA CERTAS REGRAS QUE SÓ OS AFASTAVAM MAIS. ELE BUSCAVA ALGO DESPRENDIDO DE QUALQUER TIPO DE INTERESSE. RELACIONAMENTOS FIÉIS E QUE NÃO IMPORTASSE SEU STATUS. AS VEZES NÃO DEMOS VALOR A FAMILIA, AOS QUE NOS AMAM, MAS DE ALGUMA FORMA NOS ENCHERGAM DE UM JEITO QUE NÃO É REAL. NO FINAL ELE VIU O QUÃO IMPORTANTE É TER ESTES LAÇOS REFORÇADOS, E QUE TUDO PODERIA SER SIMPLES, COMO A VIDA QUE ELE BUSCOU TER. INFELIZMENTE O ERRO O LEVOU AO FIM, MAS VIVEU INTENSAMENTE TUDO O QUE IMAGINOU VIVER E DA MANEIRA QUE QUERIA VIVER.